sábado, 29 de março de 2014

mente

Há um primeiro-ministro que mente.
Mente de corpo e alma, completamente.
E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele mente sinceramente.
Mas que mente, sobretudo, impunemente...
Indecentemente... mente.
E mente tão racionalmente,
Que acha que mentindo vida fora,
Nos vai enganar eternamente.

segunda-feira, 10 de março de 2014

A Escola de Chicago

    "Milton Friedman foi o mais importante ideólogo do livre mercado e do Laissez-faire (₁) no século XX. Por sua orientação ou influência, o neoliberalismo económico foi imposto ao mundo de forma anti-democrática e, em muitos casos, de forma sangrenta. Como consequência do desmantelamento dos serviços sociais, da privatização da grande maioria do tecido económico, do fim dos sindicatos e das desregulação da actividade económica, característica deste modelo, verificou-se na generalidade dos países um aumento brutal das desigualdades sociais, porque, embora houvesse crescimento económico e criação de riqueza como nunca antes, só um pequena fracção de privilegiados usufruiu desse crescimento.

Este modelo económico-social, é considerados pelos media mainstream, livre e democrático. No entanto, feita uma análise histórica aos países onde foi imposto, verifica-se facilmente que é tudo menos livre e democrático. Pelo contrário, as corporações e máfias globais dominam e controlam tudo, desde a saúde à cultura e informação, impondo pela propaganda, terror e medo, o fim da história (₂). Ou seja, o fim do estado do bem-estar que o modelo keynesiano (₃) trouxe no pós guerra. Os mesmos media maistream, governos e comentadores do sistema, consideram Milton Friedman um guru da liberdade e da democracia, até já há prémios da liberdade com o nome Milton Friedman. No entanto, a realidade é bem diferente, Milton Friedman é responsável moral pelo sofrimento, tortura e morte de milhares de pessoas, quer por aconselhamento directo aos governos na transição imposta para o neoliberalismo, quer, sobre tudo, pela difusão do pensamento neoliberal e do capitalismo financeiro-especulativo pelas elites mundiais.

Como já referi em textos anteriores, a crise económico-financeira do presente é da responsabilidade do modelo económico e social que o pensamento da Escola de Chicago (₄) e seu mentor, Milton Friedman, impôs ao mundo nos últimos 35 anos. E, para os que pensam que a referida crise será o pronuncio de uma mudança futura no sentido de maior regulação da actividade económica e maior distribuição de riqueza criada, ou seja, um regresso ao modelo Keynesiano adaptado aos tempos de hoje, é de uma ingenuidade tão grande como acreditar no Pai Natal. Só poderemos ter esperança numa mudança no sentido do bem-estar colectivo, se soubermos exercer pressão sobre o poder político, a exemplo do que se passou nos anos 30 e que resultou no New Deal (₄), para fazer face à grande depressão de 29, curiosamente, causada pela ideologia defendida por Friedmam, caso contrário, nada de importante mudará e rapidamente regressará o business as usual (mais do mesmo).

Os Chicago Boys (₅) e as máfias globais com o apoio ou conivência dos governos fantoches e dos media mainstream, não perderão a oportunidade de por em prática a terapia de choque final, que acabará com o que resta do sistema keynesiano. Sem emprego ou com a ameaça de o perder, as pessoas aceitarão tudo que lhes for imposto sem grandes protestos, quando acordarem, caso não tenham morrido de fome, já nada há a fazer. Foi assim nos últimos 35 anos por todo o mundo e, depois do fim do bloco Soviético, ficaram com rédea livre. Saibamos, portanto, tirar lições da história.

No início dos anos 30, o presidente Americano Franklin Roosevelt, implementou o New Deal, com base no pensamento de Keynes, para fazer face à grande depressão de 29 e prevenir que um grande número de pessoas migrasse para o radicalismo de esquerda. No final Grande Guerra foi implementado o sistema de Bretton Woods (₆) que resultou na criação de Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – estas instituições no presente estão completamente contaminadas pelo ideário da Escola de Chicago, por isso, tiveram e têm um papel fundamental na imposição do neoliberalismo − com o objectivo de criar regras monetárias a nível internacional e ajudar os países a recuperar das mazelas da guerra e da grande depressão. A base ideológica e económica foi o sistema Keynesiano que foi implementado na maioria das potências ocidentais e que foi a base do Sistema Social Europeu e do capitalismo decente.

Nos anos 50 e 60 no Cone Sul da América Latina: Chile, Argentina, Uruguai e partes do Brasil, nasceu a resposta ao Keynesianismo da América do Norte e da Europa Ocidental, com o desenvolvimentismo, ideologia com base no Keynesianismo. Como resultado, esses países registaram uma enorme expansão económica e social e pareciam-se mais com a Europa e EUA do que com o resta da América Latina e outras partes do Terceiro Mundo.

O sucesso do Keynesianismo do Norte e desenvolvimentismo no Sul, não agradava a todos, a Escola de Chicago vivia dias negros, mas tinha poderosos aliados: os dirigentes das grandes transnacionais Americanas que estavam fartos de dividir as enormes riquezas criadas pelo crescimento económico, por meio de impostos sobre as suas corporações e salários aos trabalhadores.

A revolução Keynesiana contra o Laissez-faire estava a custar caro ao sector corporativo. Era necessária uma contra-revolução. Mas Wall Sreet não conseguiria faze-lo sozinha, naquele ambiente, a população não aceitaria. Era necessária uma campanha de carácter ideológico que desacreditasse o Keynesianismo. Aí entrou a Escola de Chicago que imprimiria os argumentos da contra-revolução sob a capa da independência científica da Universidade de Chicago. Só que esta suposta independência foi financiada pelas corporações com o intuito de espalhar a ideologia neoliberal que acabaria com os direitos sociais e com as formas de protecção que os trabalhadores tinham conquistado e permitiria a obtenção de lucros astronómicos que caracterizam essas corporações hoje.

Mas a cruzada ideológica implementada pela Escola de Chicago com o patrocínio das corporações, não chegava, as populações não abdicavam dos seus direitos e do seu bem-estar, era necessário recorrer à força para forçar rapidamente a contra-revolução. E foi exactamente isso que aconteceu. Com o pretexto da luta contra a expansão comunista, a CIA derrubou ou ajudou a derrubar governos em todo mundo, na grande maioria dos casos eleitos democraticamente, e em seu lugar colocou governos ditatoriais que serviam os interesses americanos.


No inicio dos anos 70 aconteceu o primeiro choque petrolífero que abalou a economia global e foi também a oportunidade para a ideologia da Escola de Chicago se começar a impor.

Friedmam era um adepto das crises, reais ou inventadas, para impor de forma rápida e contra a vontade das populações, o modelo neoliberal da Escola de Chicago. O Chile no início dos anos 70 do século XX serviu como uma espécie de tubo de ensaio para friedmam testar as suas teorias económicas, actuando como conselheiro do ditador e assassino, Augusto Pinochet, quando este tomou o poder com um sangrento golpe de estado patrocinado pela maior organização terrorista do mundo, a CIA.

No mesmo dia em que Pinochet assassinava o presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, os Chicago Boys chilenos, súbditos da Escola de Chicago de Friedmam e sob sua orientação, iniciaram a preparação do novo programa económico e social que o ditador e assassino levaria à prática governativa, pela força, pela tortura, morte e terror, que consistia no corte de impostos, livre comercio, privatizações dos serviços públicos, corte nos gastos sociais, desregulamentação, enfim, capitalismo financeiro-especulativo, característica da ideologia da Escola de Chicago e de Milton Friedman. Esta apropriação do capitalismo selvagem ficou conhecida como a revolução da Escola de Chicago.

Mais de trinta anos depois do golpe sangrento de Pinochet e da implementação do neoliberalismo económico idealizado por Friedmam, está por provar que o friedmanismo funcionou. Apesar dos elogios dos media mainstream e da elite neoliberal, que nunca incluem nas contas os milhares de mortos e torturados que a terapia de choque causou, a verdade é que após 10 anos de friedmanismo a economia chilena estava próximo do colapso: a dívida explodiu, a hiper-inflação voltou e o desemprego atingiu 30%, 10 vezes mais que no tempo do governo de Allende. Tudo isto devido à especulação financeira das agencias que os Boys de Chicago deixaram sem controlo, bem como, à desregulação da actividade económica. O que terá evitado o colapso no Chile no inicio dos anos 80 foi o facto da empresa mineira de cobre Codelco, nunca ter sido privatizada por Pinochet, porque, só por si, esta empresa gerava cerca de 80% das receitas das exportações do país, o que garantiu ao estado uma receita segura.

Para evitar o colapso da economia, por volta de 1982 Pinochet mudou de política, nacionalizou empresas em ruína e demitiu a maioria dos Chicago Boys dos cargos governativos. Em meados dos anos 80 o crescimento económico do país estabilizou, sendo esta fase que é dada como exemplo do sucesso do neoliberalismo da Escola de Chicago. Mesmo assim, em 1988, com estabilização e crescimento da economia, 45% da população estava abaixo do linear de pobreza, enquanto os 10% mais ricos viam as suas receitas aumentarem 80%. Em 2007, o Chile era o 8º país mais desigual entre os 123 países da lista das Nações Unidas da medição das desigualdades.

O milagre económico chileno, é pois, uma mistificação criada por Friedmam, pelos Chicago Boys e por a toda a elite trapaceira que rouba aos povos e é alimentada pelos media mainstream que, na sua maioria, a eles pertencem.

A contra-revolução perseguiu e foi imposta de forma anti-democrática nos mais diversos países no mundo. Na Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Bolívia, China, Rússia, Indonésia e chamados Tigres Asiáticos, ela foi imposta de forma extremamente violenta e causou milhares de mortes (proximamente poderei voltar a este assunto, abordando a forma como a contra-revolução foi imposta nos países referidos. Veremos). Mas em todo o mundo se faz sentir os efeitos da ideologia da Escola de Chicago e de Milton Friedman. Os Chicago Boys passaram a ocupar ou a ter grande influência nos bancos centrais e nas instituições de Bretton Woods, a presente crise global é uma das suas consequências.

Em Portugal a ideologia de friedman está em grande expansão. Os sectores fundamentais da economia foram entregues aos poderosos e às grandes corporações nacionais e internacionais e as corporações clientelares apoderam-se do que resta do bolo. O comércio é completamente dominado pelas grandes corporações. Os governantes e dirigentes locais sempre que patrocinam a abertura de mais um grande espaço comercial, apressam-se a enaltecer a criação de empregos que a nova estrutura criará, no entanto, escondem que por cada emprego criado por esses empreendimentos, 4 serão perdidos nos pequenos espaços do que resta do comercio tradicional, para além de que os empregos nos grandes empreendimentos são, na sua maioria, precários e em regime de semi-escravatura. O povo, completamente alienado pela propaganda e néon dos grandes centros comerciais e hipermercados, endivida-se para aceder aos sonhos que esses espaços prometem, mas, em vez de sonhos adquire pesadelos. Os grandes empreendimentos programados e licenciados destinam-se a alimentar os parasitas do costume e hipotecarão as futuras gerações. Os grandes empreendimentos turísticos com o selo PIN (projecto de interesse nacional), não são mais do que um criminoso apoderamento do espaço colectivo do que resta de belo do país. Os progressos sociais conquistados depois do 25 de Abril têm sido atacados fortemente, os que restam estarão fortemente ameaçados se prosseguir a ideologia neoliberal. José Sócrates, Primeiro-ministro, é claramente um súbdito da terceira via, do Tony Blair e do Bill Clinton, que não é mais do que um neoliberalismo encapotado, apesar do seu actual discurso Keynesiano, devido à conjuntura, é algo de temporal e enganador. A oposição alternativa a Sócrates, liderada por Ferreira Leite, já nem disfarça, a sua ideologia é completamente neoliberal, deveriam ter vergonha e mudar o nome do partido. Quando Ferreira Leite recentemente referiu que suprimir a democracia por meio ano para efectuar as reformas necessárias e depois repor a democracia, era algo desejável, queria dizer exactamente isso: suprimir a democracia para implementar o neoliberalismo final de forma rápida e sem protestos, a exemplo do que os Chicago Boys fizeram na Bolívia nos anos 80 e na Rússia nos anos 90, com as consequências que se conhece.

Milton Friedman morreu em 16 de Novembro de 2006. Se houvesse inferno, certamente que lá ficaria a arder eternamente para pagar os seus pecados."
texto copiado de:
 http://josevazsilva.fponto.net/index. com a devida vénia.